sábado, 18 de julho de 2015

A Regra de Ouro



Júlio Soares


Há algum tempo comprei um exemplar de O Livro de Thoth ou O Tarô de Etteila, publicado pela editora Madras aqui no Brasil. Lembro-me da surpresa ao me deparar com o preço do livro: meros dez reais. A caixa não estava em perfeitas condições, era verdade, mas de resto tudo parecia perfeitamente intacto. Ao chegar em casa, percebo que as cartas também estavam intactas. Lindas em seus desenhos de traços fortes e alegorias pitorescas.


Logo, também, encontrei a explicação de seu preço tão baixo: havia uma carta a menos. Um quatro de ouros, para ser mais específico. O pensamento daquele comprador alegre e em êxtase com seu novo exemplar, porém, não deixou que o fato o aborrecesse: jogarei apenas com os Arcanos Maiores, foi o que disse a mim mesmo. Tudo bem.

Tive, porém, dificuldade de aprender o tal Tarô de Etteila. Suas cartas são diferentes, fogem do padrão que estou acostumado. Que nomes são esses? Que figuras são essas? Minhas tentativas de criar analogias com diversos outros tarôs acabaram em falhas. Bem, nem em todos os casos, pois consegui ver na carta “O Homem e os Quadrúpedes” o arcano do “Mundo”. Também acredito que “A Prudência” possa ser “A Sacerdotisa” (apesar de que ainda estou incerto disso). Mas, ainda assim, coisas como a ordem das cartas me confundem, e, para ajudar, o livro não possui explicação simbólica das cartas: apenas seus nomes e significados.

Mas eu sou teimoso. Sempre fui. Dizem as cartas que sou regido pelo Imperador. Eu não descanso até conseguir o que quero. Todos os dias pego as cartas e as observo. Leio e releio, comparo com diversos tarôs, procuro símbolos que possam ter escapado de meus olhos, e nada. Vejo Os Pássaros e Peixes, mas não consigo pensar em uma analogia adequada. Nem mesmo em um significado! Pássaros e peixes! Símbolos tão diversos, contendo tantos significados. O Caos simboliza lealdade e diplomacia? O que há de errado com esse livro? Com esse tarô?

Então uma ideia me abateu: não há nada de errado com o tarô. Sou eu. Quatro de Ouros, Julio. Quatro de Ouros. É isso que falta para eu aprender a jogar com o mesmo. Às vezes o melhor jeito de expandir os pensamentos é limitando-os. Quatro de Ouros fala de limites, de ater-se ao que se tem. É uma carta de economias, de contenção. O próprio livro fala em pequeno presente e em movimento limitado. Ganhei a chance de aprender dentro das regras.
Errei ao não aceitar O Tarô de Etteila pelo que ele é. É o que é, e, tal como a Esfinge, devo decifrá-lo dentro de seu mundo. Poderia, afinal, Édipo, fugir de sua pergunta? Com certeza não.
artas do Thoth Tarot de Etteilla
O Tarô de Etteila me ensina, agora, que o tarô de Etteila não é nenhum outro além de si mesmo. Quatro de Ouros. Desde o começo eu o neguei: desde a origem dada pelo autor, de que o tarô surgiu no antigo egito, de que é o verdadeiro Livro de Thoth, mágico em todos os aspectos. Minha mente foi cética e negou tudo, é claro. Quem estuda tarô sabe que não é isso. Mas Deuses!, estamos falando de um tarô com tal egrégora: quatro de ouros! Atenha-se! Deixe que esse tarô seja um instrumento mágico que veio diretamente do Templo de Amon a você. Entre em seu mundo e mergulhe, para somente então a realidade ser alcançada.

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